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17 de fevereiro de 2010


NO ESPELHO
(Raul Seixas)

Às vezes quando me olho no espelho
Sinto medo.
Medo de mim.
Eu não me conheço
Sou esquisito, sou humano
Uso óculos, como, bebo, fumo
Defeco
Mijo
Olho-me no espelho
E esse dá-me de volta quem sou.
Eu rio. Alto.
Assustado e engraçado
Duas longas coisas saindo do corpo:
São braços, pêlos, peles, nariz pontiagudo
Duas orelhas presas na cabeça
Olho os dedos.
Meus olhos me assustam
Falo, sinto emoções e tomo cerveja
Ridícula coisa ali em pé frente ao espelho
Eu me vejo de fora.
Faço abstração mental de que eu nunca vi
Um ser humano e me vejo.
É esquisito.
É realmente esquisito.
Procuro-me no espelho
E não me acho.
Só vejo aquilo ali.
Parado.
Um monte de carnes equilibradas
por ossos duros que me mantêm em pé.
Ali.
No espelho.
Eu sei que não sou aquilo
E o que eu sou, o espelho não pode
me mostrar...
AINDA... eu não brilho...
Ainda...

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